22 de abril de 2010

Faixa de Gaza - parte 2.

     Terça-feira, dia 20 de abril de 2010, por volta das 18:20, voltando para casa com meu filho adoentado nos braços e cheia de bolsas, fui surpreendida por uma cena que nunca mais irei esquecer.
     Rua Alexandre Calaza, Grajaú, rua que desemboca na Rua Visconde de Santa Isabel (rua do antigo jardim zoológico - subida da Grajaú / Jacarepaguá), trânsito levemente parado. Meu filho jogado nos meus braços, dormindo. Eu quase cochilando com fone de ouvido escutando uma música relaxante. Quando olho pra rua vejo um rapaz correndo desesperado, ainda ameaçou entrar no mesmo ônibus que eu estava, mas desistiu e continuou correndo. A princípio não levei pra maldade. Como ele tinha cara de universitário, imaginei que estava atrasado pra fazer prova. Mas logo em seguida vieram mais 2 homens correndo com a mesma cara de desespero, uma senhora quase caindo e um motoqueiro na contramão. E em fração de segundos uma multidão correndo desesperada. Tirei o fone e meti a cara pra fora da janela e perguntei o que estava acontecendo. Um côro pertubador, de todos, ecoaram aos meus ouvidos e de todos que estavam no mesmo ônibus e nos ônibus visinhos, e carros também: - É arrastão! estão invadindo os ônibus ali na frente e assaltando todo mundo! Desce do ônibus também, saiam! Saiam!!!
     O desespero tomou conta de todos naquele momento. Os carros de trás começaram dar ré, e eu gritei com o motorista pedindo que desse ré também. Os policiais vieram à pé com armas em punho, geral se jogando no chão, e meu filho, tadinho, sem entender nada, foi acordado com a gritaria e comigo esmagando-o ao chão e colocando todas as bolsas em cima dele pra protegê-lo de uma possível bala perdida. As pessoas olhavam para aquela cena com pena, mas não podiam fazer nada também porque não havia outra alternativa senão esta. Todos estavam no chão!
     Bem, depois de muito insistir aos berros com o motorista, ele resolveu dar a ré. Entrou em uma rua logo atrás e... fez o retorno. Voltou para a mesma rua. Como assim??
     Não, não! Primeiro veio com o papo que já estava tudo sob controle porque a polícia já havia chegado. Sob o controle o cacete! Polícia chega e troca tiro com bandido. Bala perdida sempre acha um corpo pra alojar. Dá licensa, mas não colocarei o corpo do meu filho nem o meu pra correrem esse risco.
     De segundo o motorista veio com o papo que não pode mudar o itinerário dele. Hum? Tudo bem. Ele não pode mudar o dele, mas eu posso! "- Abre a porta, por favor. Vou voltar pra Saens Pena e lá pego o metrô e o trem.".
     Ok!. Abriu a porta pra mim. Voltei pra Tijuca e fiz o novo trajeto.
     Não sei no que deu depois disso. Só sei que desci com uma Senhora grávida e uma universitária mineira (totalmente perdida sem saber como voltar pra casa) que não quiseram correr riscos também.
     No dia seguinte fiquei esperando algum noticiário na Tv e não passou nada. Pelo visto nada de grave aconteceu. Ainda bem. Mas não iria voltar com a turma do ônibus na esperança de que nada acontecesse.
     Só sei que foram 5 homens (filhos da puta!) que pararam o trânsito e foram assaltando todos os ônibus que estavam parados naquela rua, um por um. Fui informada de que a notía passou na Rádio Tupi FM.



---> Deus sabe o que faz com cada um de nós, desde a hora que somos sementinhas colocadas no útero de nossas mães.
     Vim ao mundo como mulher, e anos depois tive diabetes, não é à toa.
     Sempre tive um instinto vingativo e justiceiro. Desde pequena tinha vontade de entrar pro exército, participar de invasões nos morros e matar tudo quanto é bandido, sem dó nem piedade. Morre filho da puta desgraçado!
     Não pude fazer provas pro exército na época que quis, que foi a época em que estavam começando aceitar mulheres como soldados. Mas a diabetes veio e me inibiu. Tudo bem. Cresci e resolvi fazer faculdade de Direito. Queria ser Advogada criminalista. Ferrar com a vida de todo bandido. Mas uma força maior me afastou dessa escolha e larguei.
     Fui fazer publicidade que era menos perigoso, rs. Acabei largando no final também. Mas aí são outros quinhentos.
     Mamãe e papai adoraram, né! Rs. Porque eu ía colocar pra quebrar. Não ía perdoar ninguém.
Lembro até hoje quando aprendi na aula de Direito Criminal o código de Hamurabi (O código é baseado na lei de talião, “olho por olho, dente por dente”. saiba uma pouco mais em: http://www.suapesquisa.com/mesopotamia/codigo_hamurabi.htm).
     Cresci envolta de bandidos e justiceiros. Mas os justiceiros de quando eu era criança, eram meus heróis. Porque eles só faziam a justiça e nada mais. Nada em troca. Nada de dinheiro. Lembro até hoje de um visinho da minha avó que resolveu tomar conta do território, o segurança da área. E lembro também de uns rapazes que mexeram comigo quando tava entrando na pré adolecência. E vieram correndo atrás de mim pra fazer sei lá o que. Atravessei a rua desesperada e do outro lado tava ele, esse ex visinho. Que olhou os muleques de cima a baixo e perguntou o que tava acontecendo, eles cheio de graça falaram que estavam só de brincadeira. Aí esse vizinho me pegou pela mão e disse que eu era prima dele (Rs... a cor era igualzinha! ahuahauhau) Deu um grito com eles e mandou-os correr senão ía piorar pra eles. E pra nunca mais mexerem comigo. Aaaaaaaa, meu herói!!! Rs... Era muito gente boa! Um cara que durante o dia ficava na rua tomando conta das crianças, ficava malhando também. Lembro que ele era a minha versão He-Man negão, rs. Nunca mais me esqueci daquela cena, e da foto dele que vi no jornal "O Povo"... A foto dele caído no chão com tiro na cabeça... foi assassinado em Marechal Hermes. Chorei muito. E sinto falta da personalidade dele  até hoje. Do respeito que tinha no bairro por ser uma pessoa muito boa, gentil, que protegia as crianças e ajudava os idosos, e ao mesmo tempo muito mau com quem fazia merda na área. Se tivesse vivo estaria com seus quase 50 anos. 'Mazinho, Deus o tenha guardado no Céu.'
     Outros heróis vieram, mas não com a mesma pureza do Mazinho. Quase todos já se foram. E os que se foram, chorei também, e muito. Porque adimiro a coragem que tiveram, mas me entristeço com o fim... Mas eternos nas minhas lembranças e no meu coração. E a cada dia que passa é mais um que se vai... semana passada foram mais 2 que fizeram parte, de certa forma, da minha infância.
     Queria ter coragem, que não tenho mais, de chegar em um, em especial, e falar com ele do que penso, do que sinto. E o que sinto, é que falta pouco tempo pra ele aqui na Terra. Porque senti a mesma coisa anos atrás em relação a um tio que tava metido na mesma onda (por justiça e por dinheiro) sem eu saber, e a dor foi pior quando descobri no dia do seu enterro. Vontade de falar coisas, que eu sentia por ele, como dizer EU TE AMO TIO, mas tinha vergonha. Não falei. Ele morreu sem saber o que eu sentia de verdade. (Tô chorando...). E essa pessoa (da minha infância também), não faz a menor idéia do que sinto (Não é amor, mas é um carinho surreal, daquele que a gente passa um pelo outro na rua e não precisa dizer nada, só um sorriso já diz tudo na sinceridade e respeito que temos um pelo outro. Do carinho que sinto por ele e sinto que ele também tem por mim). E cada dia que passa tenho mais vontade de falar com ele, mas parece que vem uma força que me impede de me aproximar... (Derrepente seja a mulher dele que me cause medo, né? Rs. Extremamente ciumenta. Se me ver falando com ele e dando um abraço, pode ser que não compreenda o teor da conversa e parta pra cima de mim. Rs). E só de lembrar da nossa inocência quando crianças, da gente brincando pra caramba, meu amiguinho, e lembrar que ele era tão puro, coração tão bom, sentimental ao extremo, defensor da mãe, ele era tão igual a mim... e depois de adulto entrou pra essa vida só pra livrar o irmão e o pai das merdas que fizeram e de ameaças... e que hoje em dia não reconhecem seu esforço. E hoje ele se desvirtuou moralmente, e... se não se redimir, mais um que vai partir. NÃO!!! CHEGA! As pessoas que adimiro e gosto estão indo embora... Haja coração pra tantas perdas...
     Sei que se eu fosse homem talves estaria no mesmo meio, até mesmo pelas amizades que seriam mais irraigadas. Mas com o diferencial de não ser por grana e sim por justiça.

     Desculpem meu desabafo. Mas é que às vezes o peito aperta, e não tenho coragem de falar diretamente, porque dizem que sou muito pessimista. Tô agorando as coisas. Então fico calada, mas chega um pouco que parece que vai explodir. E preciso deixar registrado o que penso e os 'avisos' que venho recebendo. Uns com muita antecedência, outras bem próximas de acontecer.
     E só de pensar que tem gente que acha que dizer que faz isso e aquilo vai estar tirando onda com os amigos e com a mulherada... Infantilidade achar isso. Não é onda alguma se achar o 'poderoso', principalmente se não for de fato. Até porque isso não é poder e sim decair sobre ele. Triste!
    Enfim... cada um cuida do seu rabo. O que eu puder ajudar eu ajudo. No mais, minhas ajudas ficam pra orações de que tudo melhore e que as pessoas se redimam de seus erros, aprendam a perdoar e peçam perdão. E aprendam a amar de verdade, porque da boca pra fora o mundo tá de saco cheio!.
     É isso.
     Beijocas pra quem teve paciência de ler meu monólogo, rs.

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