10 de abril de 2010

Quanta tristeza...

     Como em todos os dias, tiro minutos antes de começar meus serviços diários no trabalho pra ler os noticiários online do jornal O Globo, entre outros. Pois como já disse em outros posts, minha vida é corrida e a chegada em casa bem cansativa. Raros são os momentos em que consigo assistir Tv.
     Ontem lendo no site do Globo vi esse noticiário e fiquei extremamente sensibilizada, chorando horrores de tanta dor. Me senti no lugar desse pai e dessa mãe que perderam seu filho de 8 anos. Acredito que isso deva ter um pouco da influência de meu filho, afinal, também sou mãe.
     Ver a cara de desespero, dor e tristeza na foto à baixo, e ver a cara de tristeza dos bombeiros que tentaram ajudar, mas infelizmente a força da natureza foi maior que a deles... nossa... não consigo nem falar, permaneço em semi estado de choque. Coração partido, pra valer. Sensibilidade à flor da pele... Semi depressiva, mas mantendo-me forte pra não desabar e poder fazer a minha parte aos que necessitam.
     Ontem, no meu horário de trabalho na Tijuca, ouvia de 10 em 10 minutos o som da SAMU passando desesperadamente pra cima e para baixo.
     Deixo a baixo, além da foto, o notíciário completo, copiado do próprio site.




O menino Marcus Vinícius, de 8 anos, que sobreviveu a um desmoronamento, mas acabou morrendo antes de ser resgatado por conta de um segundo deslizamento na última terça-feira (6), no Morro dos Prazeres, no Centro do Rio, chamou pelo pai durante o tempo que ficou soterrado.

"Eu não ouvi, mas um bombeiro me disse que ele me chamou, que ele disse: 'não demora pai'", contou ao G1 o pai de Marcus, Walmir França da Mata.

Dois dias após o episódio que mudou para sempre a vida da família de Walmir, ele conversou com a reportagem e contou como foi o antes e o depois do resgate, que acabou de forma trágica.

Tudo começou na manhã de terça-feira, dia em que o Rio registrou a pior chuva dos últimos 44 anos. O menino Marcus Vinícius saiu cedo de casa naquele dia, ia de perua para a escola, a Fundação Bradesco, onde estuda.

"Ele pegou o transporte para ir para escola, mas a condução não conseguiu chegar devido ao caos no trânsito. Então, o ônibus voltou para casa. Depois a motorista do transporte me disse que ele queria esperar passar a chuva, queria ir para a escola. Mas ela explicou a ele que ia demorar para a situação melhorar. Ela não entendeu o pedido dele naquele momento", diz o pai.

Já em casa, ainda na manhã de terça, a família ficou junta por pouco tempo. "Estávamos no portão de casa porque tivemos que evacuar o local, a casa teve um problema no muro e ligamos para a Defesa Civil fazer avaliação da casa. Passaram as duas primas dele, Ana Lúcia e Alana, e minha esposa não pensou duas vezes. No sentido de escolher o lugar mais seguro do mundo para o nosso filho naquele momento, pediu para que elas levassem ele para casa delas." 

Marcus estava na casa das primas, já adultas, quando morreu. As duas também morreram no desabamento

"Eu me lembro exatamente do momento em que Marcus saiu com as primas, ainda uniformizado. Entregou a mochila para a mãe na maior felicidade e saiu pulando. Ele era uma pessoa muito feliz, não andava, vivia pulando. E agora a gente entende essa correria, ele tinha pressa", diz o pai, que não consegue conter as lágrimas. "Foi a última vez que vimos o meu filho vivo."

Walmir com o filho nos braços após o resgate (Foto: André Teixeira / Agência O Globo)
  • Aspas Ele era uma pessoa muito feliz, não andava, vivia pulando.
            E agora a gente entende essa correria, ele tinha pressa."

     E Walmir foi para o trabalho - ele trabalha recepcionando alunos no Colégio Mopi. "Estava no trabalho quando minha esposa ligou e disse: 'Volta agora para casa que o Marcus está soterrado'. E foi desespero total. (...) Demorei para conseguir chegar. Quando olhei o estado do local, a primeira coisa que veio na cabeça era que meu filho estava morto."
 

     O pai conta que, mesmo assim, não desistiu de lutar para encontrar o filho com vida. "Nós tínhamos uma comunicação, o nosso sinal era um assobio. Eu assobiava e ele vinha. E eu fiquei o tempo todo nos escombros assobiando, para ele saber que eu estava ali. Em pouco tempo ele deu o primeiro sinal, os bombeiros ouviram ele chorar, era um sinal de que ele estava vivo."
 

   Segundo Walmir, o desmoronamento ocorreu por volta das 9h e o primeiro sinal de vida foi ouvido por volta de meio-dia

     Walmir lembra que, durante a tarde, os bombeiros conseguiram se aproximar bastante do local onde o menino estava e chegaram a conversar com Marcus.

  • Aspas     Eu disse que não me importava de perder a minha vida, mas entendi a 
                situação. Não ia ajudar meu filho se me machucasse."
     Ainda de tarde, o pai foi avisado por um bombeiro de que o filho havia lhe chamado. "Eu liguei para todo mundo, dizendo que ele estava vivo, comecei a passar essa notícia. Os bombeiros estavam tirando o corpo de Ana Lúcia, quando começou a desabar de novo. Uma árvore começou a descer e rolou aquele monte de areia. Derrubou mais uma casa que estava ao lado. Tinha muito detrito de lixo de escombro. Nesse momento, a equipe, para preservar a vida de todos, abandonou o local. Eu queria ficar, mas a capitã me puxou, me pediu para sair. Eu disse que não me importava de perder a minha vida, mas entendi a situação. Não ia ajudar meu filho se me machucasse."

      A partir de então anoiteceu, e Walmir viveu o que chamou de "noite mais difícil da minha vida". "Eu fiquei a noite inteira ali, 24 horas, na chuva, molhado, com a mesma roupa. Eu fiquei ali desesperado, olhando para cima e vendo descer aquela lama. Aí começou a dificuldade, não conseguia ver mais nada."


  • Aspas  Foi exatamente na madrugada que ele morreu. Morreu sufocado, por falta de  ar."
Quarta-feira
      No outro dia, quarta-feira, seis horas da manhã, o trabalho de resgates recomeçou.


     "Onde havia o buraco em que ele estava, só havia lama. Ali acabaram as minhas esperanças. E quando retornamos eu disse o local exato onde haviam parado as escavações. Não deu 20 minutos e conseguimos achar o corpo de Ana Lúcia. Do lado, estava meu filho. Ela estava morta há bastante tempo. Mas o meu filho, a gente percebia que tinha seis horas no máximo que ele havia falecido. Foi exatamente na madrugada que ele morreu. Morreu sufocado, por falta de ar."

      O momento da retirada do corpo de Marcus emocionou quem participou dos resgates. O pai arrancou o corpo dos braços dos bombeiros e saiu chorando em meio ao lamaçal. "Eu estava desde segunda sem comer nada e sem beber nem água. Enquanto não tirei o meu filho de lá eu não fiz mais nada. Eu tinha isso como propósito de vida. Eu não conseguiria fazer mais nada se não tirasse ele dali." 


             Marcus havia completado 8 anos no dia 14 de março (Foto: Reprodução / Arquivo pessoal)


     Segundo o pai, a mãe do menino ainda está muito abalada. "Ela vivia o nosso filho 24 horas por dia. Está sob efeito de sedativos. A ficha dela ainda não caiu. Toda família está abalada. Ele tinha acabado de fazer 8 anos, no dia 14 de março, estava tão feliz", relembra o pai, em lágrimas.

     O pai conta que agora a família continuará seu caminho, e que sua missão será preservar o que o filho representava.

      "Marcus Vinícius era uma pessoa que tinha o poder de semear a semente do bem onde chegava, seja lá o lugar que fosse. (...) Eu pedi para todo mundo, se quiser lembrar do meu filho, é só pensar na amizade. É assim que vou lembrar do meu filho para o resto da minha vida. Essa saudade vai ficar, mas o amor nunca vai deixar de existir."

Campanha
      Walmir e a mulher estão morando agora em uma casa perto do local do desmoronamento, imóvel emprestado por um amigo.

      Sensibilizados pelo drama vivido por Walmir, funcionários, docentes e pais do Colégio Mopi, onde ele trabalha, criaram uma campanha de arrecadação de donativos para os moradores atingidos pelos desmoronamentos. Uma arrecadação específica será feita para ajudar a família de Walmir.

     "A gente está mobilizado no colégio e recebemos contatos de pessoas de vários locais. A gente o conhece há 25 anos. Ele conhece pais e alunos pelos nomes. Todos estão muito sensibilizados", relata o diretor administrativo do Mopi, Vinícius Canedo.

      Canedo  acompanhou os trabalhos de resgate no Morro dos Prazeres. Após saber do primeiro deslizamento, Walmir ligou no colégio dizendo que estava preso no trânsito e não conseguia voltar para casa. Canedo e o irmão foram socorrer o funcionário.

      "O triste foi a gangorra de emoção. Foi uma tortura. Vinha a informação de que Marcus estava bem, mas depois os bombeiros foram obrigados a abandonar o local", relembra o diretor.

      As doações para os moradores atingidos pelos deslizamentos podem ser feitas em duas unidades do Mopi: Barra (Estrada da Barra da Tijuca, 600 - Barra da Tijuca - CEP 22611-202) e Tijuca (Rua Almirante Cóchrane, 66 - Tijuca - CEP 20550-040). Outras informações sobre doações específicas para a família de Walmir podem ser obtidas pelo e-mail mopisolidario@mopi.com.br.


Para maiores informações entre no site: GLOBO 

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